domingo, 8 de janeiro de 2017

Crônica do Homem Morto

     Para tudo se tem uma primeira vez. Essa é a minha primeira vez. Espero que não seja doloroso, que não faça mal para mim, e que seja inesquecível. Não precisa ser nada romântico, às vezes é bom a rudeza.
      Eu pensei várias vezes, e acho que não há outra forma. Eu preciso morrer, e preciso morrer agora. Já comprei meus artefatos para cometer este crime contra a minha própria vida: uma caixa de remédios tarja preta e um bom Whisky de marca. E acho que as pessoas não irão se importar tanto assim com isto. Por que elas só se importam realmente com elas mesmas. E não me diga que falo ao contrário. Isso é pura realidade.
    Ontem mesmo, depois de todo aquele barulho por pouca coisa, naquele mesmo ontem em que precisava encher a minha cara, rir um pouco por aí e esquecer dos meus problemas, só vi egoísmo mais egoísmo por todos os lados. Estamos sozinhos nesta vida, não podemos confiar tanto assim nos próprios conhecidos.
    Não nego que fui convidado, me disseram: "se arrume, daqui meia hora passamos aí para lhe buscar". Me arrumei dentro deste tempo. Estava mexendo no celular, e aquilo não estava nem um pouco agradável para alguém como eu, que precisa de um pouco mais de interação verdadeira. Se atrasaram uma hora, o que pareceu bem normal, vindo de duas pessoas que tantas vezes pensam que o mundo gira em torno delas. Mas, é meio perdoável essas atitudes, pelo menos para mim. E ouvi tanta coisa desnecessária, e falei também algumas. Por que às vezes me sinto dentro de um balaio de cobras. E isso não é de agora.
      Justo eu que prometi que não me envolveria mais em situações similares neste ano. Ficar dentro de brigas que não são minhas. Mas sobra, como sempre, alguma coisa para mim. Bebi uma garrafa de champagne, que era ainda do ano novo. Bebi mais duas cervejas e então resolveram ir embora, beber em casa. Mas eu não queria, por que tenho este direito, queria ficar por ali vendo as pessoas e seus problemas. Então fiquei com outro grupo de amigos, o que pareceu uma grande ofensa. Não me importei. Quem é que se importou tanto assim comigo?
     O que muda um pouco os fatos é que ambos estavam brigando por mal entendidos cometidos pelas redes sociais, e eu que nada sabia da história, passei a ser o traíra, o manipulável, alguém em quem não se pode confiar. Só queria sair e esquecer dos meus problemas!
      Aí se volta para casa, e tudo isso não faz mais nenhum sentido. Por que deveria fazer? "Isso é tão infantil", diz um dos lados. Infantil é sair e brigar por aí como adolescentes. Por coisas que um disse, que o outro fez, que um se ofendeu e outro não entendeu. É difícil sair para beber e conversar?
      E de uma forma ou de outra, todo esse apelo para o negativo, somado com a vontade de sumir da minha casa e da minha realidade, me fazem querer ser um homem morto.
     E para um desempregado, desiludido, fracassado na profissão, mal conversar sobre essas coisas machucam um pouco. E estou falando isso, por que nem mesmo os amigos de mais de uma década se importam com esta situação. Para eles só mais drama. Por que também possuem os seus próprios problemas, e quem sou eu para dizer que são menores ou maiores do que os meus?
     Só uma parte deste homem ainda vivo quer dizer certas coisas. Pode ser que eu me torne um egoísta também, um daqueles que poupa até as palavras. Um daqueles que convida para sair e se atrasa, um daqueles que faz o que quer mesmo se isso machucar os outros, que não percebe que os outros não precisam pagar pelo quanto a vida e as pessoas o machucaram. Um daqueles que liga para alguém para a noite valer à pena, um daqueles que precisa provar que sua vida é maravilhosa.
      Para tudo se tem uma primeira vez. E eu serei um homem morto. Um homem sem vida e morto. Cansei de ser o homem das tantas nuances de cabelos e palavras bonitas.

Domingo, 08 de Janeiro de 2017. Vinicius Osterer.


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