quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

O Poema Sujo de Ferreira Gullar


O único poeta que me causou reviravoltas boas dentro da barriga. Sentimentos escuros, libertadores e insanos. Como você faz falta Gullar!
Não me darei o luxo de lhe analisar, por que quem sou eu para fazer uma análise? Só mais um grande fã da sua arte.

http://static.recantodasletras.com.br/arquivos/5319037.pdf (Para quem nunca leu este poema, eu recomendo! Uma grande obra nacional! Tenha suas próprias conclusões, depois tente não parar de ler sua soberania literária!).


Nação Feijão Com Arroz

A linha é cega.
Preguiça me mata.
Uma faca abstrata,
Uma roupa barata.
Atitude abusada,
Que grita e não fala.
Linha deformada,
Que cala, que dita, é bala.
O rio que corre,
A água que sobe e desaparece,
O olho que dorme,
O filho que se esquece.
Um dragão para São Jorge,
Esperanças para o futuro,
Um susto do lobisomem,
Para a base do momento puro.
O sertão é quente, doce e duro.
A opinião desorientada,
É vidrada, é calada, é usada,
É controlada, a manada, arroz com salada,
Feijão manipulado que olha por uma nação,
A nação feijão com arroz,
A nação do feijão e do depois,
Feijão com arroz,
Futuro do depois,
Manada com fome que pede,
Que usa o barato e fede,
O cheiro da nação,
O cheiro do governo da podridão,
Hoje dia de Bento,
Hoje é dia do arrependimento,
O começo da explosão solar.
Exortasse o demônio do poder,
Reza-se muito ainda para crer,
O futuro desse feijão com arroz.
Prisão de algemas,
As rosas serenas,
As lunas, as dunas, as curas,
O percurso de todo feijão.
O beijo negro de toda uma nação!
Cultura de massa, que entra na massa,
No lar daquele que quer o feijão,
Na batalha constante,
Na pura luta com o coração.
Isso é fácil, é compra barata,
É roupa barata, é marca barata,
Amazônia é a legal,
Derrubar para o ilegal,
O crime de um padre sem tutela,
A voz que grita pela mesma doce e bela,
Criança de uma grande nação.
O verde marrom,
A música sem tom,
A cor de bombom,
O carnaval da mulata,
É dia de feijão e de passeata,
Nação feijão com arroz.
Se a esperança existir não será no depois,
A faca abstrata, a roupa barata,
Avise a população,
Exortasse o demônio do poder,
Querido governo, salve nosso feijão.


(2012 - O Diabo Vespertino e a Loucura – Vinicius Osterer)

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