quinta-feira, 9 de março de 2017

A Loucura

Sim. Ela veio do nada. Afetou minha percepção sobre o que eu era enquanto garoto de 17 anos. Passou da minha cabeça, ainda tão nova, para os meus cabelos virgens, percorreu todas as partes do meu corpo e se perdeu pelos olhos de outras pessoas. Voltou para o centro do meu coração:
- Ah a loucura! Como é bom ser um homem louco!
E passei a andar por aí caolho, com dor crônica na barriga, e um arco-íris sobre a cabeça. Passei a andar com o rosto erguido, e a sorrir constantemente, deixando as coisas fluírem. E fluir é o que me deixa mais louco.
Não sou um desses que pensam a loucura como uma doença mental. Doença mental é uma coisa, loucura outra bem específica. Eu sou um louco por completo, e já aceitei este fato.
Mas não sou louco por ser diferente, por pintar e colorir meus cabelos. Sou um louco por ainda dar amor sem o esperar de volta, acreditar nos meus sonhos de olhos fechados, me preocupar bem menos se tenho dívidas acumuladas, se tenho obrigações, se quero ou não quero mais projetar edifícios. E acho que de todas, mesmo algumas ainda sendo dúvidas, essa palavra “sonho” fica um pouco mais pesada, por que meu sonho pesa sobre as minhas costas. Já ouvi tanto que eu luto pelas coisas. E se as coisas não lutarem por mim na mesma intensidade?
- Ah a loucura! Como é bom ser um homem louco!
Como é bom remar o barco contra a correnteza, como é bom afirmar-se sem grandes argumentos (meus argumentos sempre são os mesmos), como é bom ser alguém diferente de cor todos os dias.
Fluir é o que me deixa mais louco. E este texto é fluído, não pensado, não imaginado, não sonhado, nem planejado. Por que sou louco o suficiente para deixar que as palavras acontecem, sem pudores e sem filtros. Deixar que elas venham para a tela do meu computador pago em algumas tantas prestações, pelo meu pai que ainda paga as minhas contas. Isso dói no peito. Não é vadiagem! É não ter projetos para executar e nem ninguém que queira dar emprego para um profissional diplomado, com um punhado de loucuras sobre as costas, estampadas sobre o rosto. Me resta? Acreditar nos sonhos. No pouco que ainda tenho e que é meu!
- Ah a loucura! Me corrompeu!
E ás vezes, mesmo sendo um louco de pedra, até as palavras pesam. Estou cansando disto tudo, vou ter que viver dentro da loucura do meu sonho em ruínas.

[...]
A cor preta sempre me pareceu um pouco mais sedutora
E um pouco mais formal para um crime.
As minhas loucuras sempre estiveram contidas,
No belo ato de matar no sublime.
E foram negociadas por dinheiro,
Por um mundo quase completo e inteiro,
Pois hoje em dia um punhado de palavrões e loucura
Fazem a história do mundo moderno.
[...]
(Alterações Cerebrais - 2013 - Arte Sedução – Vinicius Osterer)

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