Aqui, onde
eu moro, na Rua Santa Terezinha, de Francisco Beltrão, eu vejo o pôr do sol
quase todos os dias. São coisas daqui. Coisas que eu sempre associo a aqui. O pôr
do sol laranja, amarelo, vermelho sangue, um pôr do sol subtropical, de mata de
Araucária.
No horizonte,
curvado de montanhas, a cidade se perde. É interrompida por campos e matas que
lá longe criam outras linhas sobre as linhas da terra. Parece uma mulher cheia
de curvas, terra fértil e muito adorada. Se eu olhar para trás não vejo nada. Apenas
o fim de uma rua sem saída. Se olhar para os lados mais morros e um pequeno
trecho da área central da cidade, coberta com vegetações cinzas, características
dos grandes centros urbanos modernos, árvores de concreto, vidro e aço, com
pastilhas, pinturas e elevadores metálicos.
Quando eu
piso na floresta acinzentada, com suas calçadas de blocos de cimento, asfaltos
e postes gigantescos, eu sempre penso: “sim, eu sou uma parte deste lugar”. Não fico
sempre com isto na cabeça, outras vezes repenso e digo: “não, esse lugar não me
representa!”. E no fundo da minha existência eu sei que sou todos os cantos,
todos os bancos das praças, as árvores dos parques e o sorriso das pessoas
daqui.
Não posso
pensar como elas pensam, ou agir da maneira que elas agem, mais isso é normal,
não é mesmo? Deve ser assim em qualquer parte do mundo. Deve ser assim em
qualquer pedaço de nação que existe ou que ainda há de existir. Sabe-se lá se
isso tudo não mudará um dia.
Eu gosto
de sair da biblioteca e saber que tem um café colonial na outra esquina, que me
cobra oito reais para tomar um expresso e encher meu prato com salgados,
enquanto tento ter ideias para o meu próximo e vindouro livro. Gosto de saber
que tem missas na quarta feira, na igreja central, com formato de cruz, pintada
de amarela ao lado da Torre da Matriz. E gosto mais ainda de saber, que no fim
do ano terão fogos de artifício que explodirão no céu, sobre minha cabeça, vindo
do Cristo Redentor e iluminando minha rua, como se aquele fosse um espetáculo particular
de agradecimento pelos 365 dias do meu ano.
O lugar
onde sempre se faz um pinhão na chapa, um quentão no inverno. Na minha casa não
falta uma boa polenta com salame frito, com molho de frango, com leite frio. Fubá. Sopa
de batatinha com farinha de trigo torrada, pelotas cozidas (uma espécie de
massa com salame, uma delícia!), bolo de duas cores, cuca com carne assada. E
batata é um alimento essencial para todos os dias da semana: no purê, fritas,
na maionese de domingo, cozidas com sal...
Não falamos
tanto “daí” assim. Apenas no final de algumas frases, no sentido de subsequente
ao que aconteceu, enfatizando o que foi contado ou realizado: "eu fui lá e ela
me disse isso, daí"... E a velha mania do “R” carregado? Não discuta com alguém
sobre a diferença de dizer “porta”! As portas daqui tem o “R” carregado, mas
são iguais, não se assuste, todas tem maçanetas, trincos e fechaduras!
Apesar de
todas as coisas, eu gosto daqui. Deste daqui que vejo da minha janela, do daqui
que ando todos os dias para ir ao mercado, a farmácia municipal pegar meus
remédios, a universidade para fazer pós-graduação, a biblioteca para devolver
livros (que mesmo sendo de uma cidade com menos de cem mil habitantes, abriga
um acervo muito bom de literatura nacional!). Também gosto daqui, deste outro
lado cheio de palavras. Deste daqui que ás vezes escrevo no domingo ou nas quintas feiras. E pensar que estava no banheiro, pensando sobre o que
escrever! Mas isso, são coisas daqui do peito, daí.
Dia 05 de Março de 2017,
Vinicius Osterer.
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