quarta-feira, 19 de abril de 2017

Uma Semana

     Pode ser o nosso segredo? Faz uma semana que tentei me matar com remédios. Não posso dizer que queria tanto desta vez, e até parece irônico, pois algumas horas antes estava sentando com um círculo de amigos falando sobre uma nova série que retrata o suicídio. Esbravejei: "Ela deveria ter os próprios motivos, o fardo dela estava pesado para ela, e ninguém pode se colocar no seu lugar, ninguém sente da maneira que ela sente, na mesma intensidade!". E não é que não sente mesmo!
     Não fazia ideia se aquilo que estava sentindo era o peso das minhas escolhas erradas, como fazer uma pós-graduação por fazer, acumular uma dívida acima dos meus limites e condições financeiras, não conseguir um emprego por estar formado em uma área que também não está nada boa, não me sentir bem com a minha aparência, saber que posso adoecer a qualquer momento, amar sem ser amado. E depois de alguns goles a mais de vinho e uma noite nada satisfatória com um ser humano estranho e desconhecido eu voltei para casa propiciando a derrota, o fim das coisas. As pessoas sempre colocaram muita expectativa sobre mim.
    E uma semana atrás tentava me matar com remédios pela terceira vez. Coloquei minha melhor roupa e deitei na cama. Apenas acordei drogue no outro dia com aquela sensação de que alguém havia morrido. Aquele outro alguém que nunca pedi para ser. 
     Isso não é bonito! Isso não é nada interessante! Voltei para meu tratamento psicológico e passei a entender algumas coisas. Não pega mais bem para um homem como eu usar a roupa da morte. Mas posso lhe garantir que nunca me senti tão vivo em toda vida. Sentei ontem e comecei meu 13° livro, sobre a construção, a fragmentação e o restauro. Por que preciso ser restaurado depois de todos estes fatos. Estou bem. Mas já estive melhor.

Vinicius Osterer, 19 de Abril de 2017.

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