segunda-feira, 29 de maio de 2017

Ágora Moderna

Sem ter medo. Sem ter receio. Sem ter vergonha. Expondo a cara. Não fugindo da minha própria existência. É assim que ganho mais odiadores nas redes sociais, na vida cotidiana. Porque eu existo nem que seja para ser um estranho, deslocado, que é demasiadamente um sonhador e pouco idealizador. Sou um transgressor coercitivo, isso está no meu sangue, dentro da minha carga genética de DNA, que é metabolizada pelo RNA a todas as minhas células do corpo.
Nessa Ágora Moderna de opiniões rasas, onde se encontram os nossos filósofos modernos? Onde estão as interrogações? Do quê? Que forma? Quem? Por que? Ainda vivemos dentro do Mito da Caverna? Algumas palavras ainda existem dentro do mito. Dentro daquilo que eu acredito ser e não é. Deveríamos nos atentar para alguns fatos. E não posso me isentar da sociedade em questão, assim como a ciência social não é tão imune. Minha própria sociedade está vivendo o caos e a desordem. E coloco minha opinião vazia e ignorante sobre esta tecla massante: uma palavra, um time, o que você queira intitular, vale mais do que um caráter?
Onde eu quero chegar? Primeiro: somos sim de um mesmo time, o time da humanidade, da raça humana. Segundo: opção sexual não mede caráter, não mede atitudes a se cometer, não mede absolutamente nada. Isso é uma condição física, genética, onde a pessoa gosta ou não gosta daquilo que sua mente, interconectada com seu corpo, a faz sentir, amar e desejar. Terceiro: eu não preciso ser um fator social, mas preciso existir em sociedade, nem que seja para fazer absolutamente nada (não esperando resultados, o que parece ser bem óbvio).
Sem ter medo. Sem ter receio. Sem ter vergonha. Expondo a cara. Isso é o que eu sou. E eu sou um punhado bem grande de matéria formada por pequenos átomos, com diversos sistemas, órgãos e um punhado bem grande de cabelos ressecados pela coloração. Tenho uma forma estranha: dois braços, duas pernas, todas alongadas e magras, com uma cabeça circular que guarda minha melhor caixa de segredos e mistérios. Quem me fez assim? Posso dizer que em parte a genética, em parte Deus, em parte a sociedade, e em parte eu mesmo. Porque minha existência se fez necessária, assim como a sua existência e a de todos os que se foram e os que ainda estão chegando.
Se a epigênese existe, não permita que a sociedade o transforme em um alimento industrializado. Exista e se faça acontecer. Sem rótulos, sem razões para colocar pesos em palavras que não significam absolutamente nada. Que não caracterizam de forma igualitária nenhum ser humano. Você não é uma palavra, você é a existência que dá a si mesmo. Não se transforme em uma opinião de rede social, se transforme em uma pergunta sem resposta.
Onde eu quero chegar? Em lugar nenhum. Esse é o lugar que eu mais gosto.

Dia 29 de Maio de 2017, Vicenzo Vitchella.

domingo, 21 de maio de 2017

Advérbio das Dúvidas

Até hoje. Até agora. Talvez esteja dentro de um jogo de adivinhações com cartas. Talvez esteja dentro de um sábado chuvoso onde assisto “O Mágico de Oz” pela enésima vez, desejando um lugar além do arco-íris. Talvez eu faça mesmo a torta de maça. Por que talvez eu precise ver as pessoas que eu amo felizes, e nunca negue dizendo um não.
Pode ser uma impressão ou talvez seja apenas um talvez. Um desses “talvez eu faça alguma coisa para ser lida”, “Talvez eu faça alguma coisa apenas para mim”, “Talvez não faça nada”, “Talvez, talvez...”, “Talvez nem esteja mais aqui”.
Talvez eu seja o verbo, modificado pelo advérbio, feito Jesus carne que remiu o pecado do mundo. Talvez todos somos verbos modificados por advérbios, alguns de dúvida, outros de negação, outros extrapolando a ordem, o lugar e o tempo. E posso ser muito, demais, pouco, todo. De modo algum serei o antes, ali, embaixo e breve. Não sou lugar e nem tempo. Sou apenas mais um modo passageiro.
Não sou mais o verbo, habitando a síntese da criação. Talvez isso nem faça sentido se não for pendurado em uma igreja, publicado em um domingo, escrito por um cristão. Com os olhos preenchidos pela lua, o coração colocando menos força e gerando mais ação. Posso ser um advérbio de afirmação, eu sei acabar perfeitamente o que precisa de um fim.

“Você foi e se foi é passado,
Não tente julgar um verbo no tempo errado”.

O que fazer agora? Uma torta de maça, com o que sobrou de sentimento. Talvez eu mude como o tempo lá de fora. Sou um advérbio de dúvidas.

Dia 21 de Maio de 2017, Vicenzo Vitchella.

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Entre Parênteses!

Odeio um dos meus piores pecados. A preguiça. Ainda mais quando se tem tanta coisa para fazer, mas o dia chuvoso, ameno e tão bucólico não ajuda. Um desses dias em que coloco um vídeo em 8K HD (sem saber o que seria 8K, deve ser algo bom!) da cidade de Londres e faço uma xícara de chá para me sentir um Lord Inglês, mesmo sendo apenas um desempregado diplomado, endividado, assustado com a situação política do país.
Odeio outro dos meus pecados. A vaidade. Ainda mais quando começo a conversar com meu amigo e nós percebemos coisas do tipo: “somos objetos de luxo, edição limitada, não é para qualquer um ter na lista, muito menos comprar e levar para casa. Item de colecionador (risadas e mais risadas, neste ponto)”.
A chuva ainda não passou (são dez horas da noite), a situação política continua na mesma (cada vez melhor, dependendo do ponto de vista), apenas os meus pecados estão cada vez mais maduros, assumindo sua grandeza adulta (se para você existir o pecado).
E para encerrar este dia tão vagaroso talvez eu faça mais uma dessas sopas de caneca (que não vou falar a marca, pois não pagam minhas contas) e durma cedo, por que nas sextas sempre tenho que acordar cedo.
O dia foi assim (quem sabe?) pela maratona de filmes de drama da madrugada passada. E ligar a televisão é mais do mesmo drama. Tentar acabar um trabalho da pós-graduação mais drama, e sentar escrever tanta coisa entre parênteses mais drama... Por favor! Que isso?... Já fiz coisas melhores. E cá entre nós, entre parênteses, isso não é segredo algum! Deixa assim, daqui a pouco pego minhas cobertas e vou para o sofá. Talvez possa fazer alguma coisa amanhã se já não for tarde, não é assim?
Que isso Brasil? Que isso Vinicius? Entre parênteses: por isso as coisas não mudam. País do futuro é uma ova! Eu quero um país do agora... Certo. Talvez não para o agora de hoje, que está chovendo e frio, mas para um agora de amanhã de manhã, não é assim? Sim. Quero sopa! Descanse em paz gigante, o dia de amanhã vai ser eterno. Que invenção maravilhosa esta sopa de pacotinho! Ops, cadê o parêntese? Pequeno erro de democracia. CONFIRMA. Acho que foi erro de digitação. Vento, ventinho, ventão! Como lá fora chove! Muda o disco Rede Globo (ainda bem que eu tenho TV a cabo! (só ainda não sei até quando (minha situação não é das melhores) ainda irei ter) Isso escrevo assim entre parênteses?) Está foda. Está foda até para um falso Inglês e suas solicitudes! Ah sopa de pacotinho, como eu lhe venero! 

Dia 18 de Maio de 2017, Vicenzo Vitchella.

terça-feira, 16 de maio de 2017

Leia Brasileiros!

Título: "O Rio Invisível"
Autor: "Pablo Neruda"
Ano: 1993
4ª Edição - Editora Bertrand Brasil
Tradução de Rolando Roque da Silva

Preciso abrir outra exceção, agora para Neruda, renomado e premiado poeta chileno. Nesta compilação de poemas e escritos ainda não publicados, podemos enxergar a alma deste grande escritor, crítico, político e apaixonado. O Rio Invisível mexeu com minhas estruturas e me remeteu ao primeiro encontro com Ferreira Gullar, em uma noite fria de 2016. Não leia a poesia de Neruda, leia tudo que tenha o seu nome na capa! A poesia latino-americana é uma refeição completa! A última parte do livro nos faz adentrar em um mundo moderno onde a simplicidade e a brutal rudeza da condição humana acaba sendo o tema central. O poema para sua mãe, que dá o nome ao livro, também é extremamente tocante.

Mande sugestões de autores nacionais! 
💯🔰💖💀💋

domingo, 14 de maio de 2017

Mãe!

Ela chegava em casa perto das seis da tarde. Até o meu cachorro sabia que ela estava chegando. Porque ela tinha disso, emanava luz e fazia as coisas ficarem bem, mesmo quando não estavam (nem mesmo para ela). Fazia um café preto, assistia a novela das seis, mantendo o sorriso e as palavras sobre controle.
Sobre controle. Não era isso que queria escrever. Vou deixar fluir o que me parece ser o mais certo. Já registrei inúmeras das minhas dores, e já vivi muito mais do que o tempo que passamos juntos em plenitude de vida. Por que sabe mãe, você não morreu para mim. Você é a minha poesia e toda a carga de amor envolvida! Mãe a minha mulher preferida! Os melhores 17 anos da minha existência.
Dei muito trabalho na minha infância. O pai ia trabalhar e você ficava com um filho louco da cabeça, que vivia aprontando coisas e mais coisas e não poderia brincar das brincadeiras normais. E meu gênio de cão nunca foi dos melhores. Dias atrás estava relendo os meus cartões da escola onde diziam: “mãe você é feia, mas eu te amo!”, “este cartão em troca de um ovo da páscoa!”, nunca fiz por mal. Era tão bom te ver sorrir. Talvez por isso aprendi a ser tão engraçadão, descontraído e com um humor duvidoso (para quem me conhece), essas coisas te faziam rir! Era um completo divertimento para os meus olhos o seu sorriso...
Todas as suas tantas crises de cólicas, as suas inúmeras vezes que passava vomitando no banheiro, sempre cortavam meu coração. Talvez por isso hoje eu veja as minhas crises de dores e vômitos com mais facilidade.
Apesar de tão calada quando deveria rugir como um leão, você era a própria vontade da vida, a própria vontade do amor e resiliência. E nestes sete anos, meus aniversários (ainda mais quando caem no Dia das Mães), nunca mais foram os mesmos. Parabéns para mim e para você minha Mãe, eu te amo!

Dia 14 de Maio de 2017, Vinicius André.

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Vitrinismo

“- Estava aqui pensando... Não te enoja saber que hoje em dia as pessoas se dão ao trabalho de serem descartáveis?
- Serem descartáveis? Pode me explicar melhor? – ele perguntou.
- Independente de como a pessoa se defina, me parece que de um modo genérico, cada vez mais as pessoas estão postas em vitrines, com seus perfis para serem compradas como mercadorias, superficiais, embaladas, montadas, para serem perfeitas para um exato momento e nada mais...”
Terminei com um “salvo raras exceções”. Ele não me respondeu mais. Habitualmente não me responde, e isso até não me surpreende. Não era sobre ele. Nem mesmo sobre uma situação que nunca chegou a nos acontecer. Era sobre aquilo que estava pensando por horas, e que apenas alguém como ele poderia entender. Pelo menos dentro da minha cabeça! Ele assim que nos conhecemos se despiu de seus pudores, e eu precisava entender seus enigmas e todas as palavras que raramente trocávamos.
Vitrinismo. A arte de arrumar vitrines. E que bela vitrine esse mundo se tornou!
E pensar que toda esta loucura surgiu ontem de tarde, quando resolvi mandar uma foto de uma poesia que estava lendo, chamada “Dor Oculta” de Guilherme de Almeida. E por sinal nem havia reparado em algumas coincidências tais como o nome do poeta, e essa dor oculta que ninguém enxerga. Então entre tantos Guilhermes, um me respondeu:
“ – Oi Vinicius, adorei o poema, Guilherme de Almeida o autor?
- Isto...
Sete horas depois:
- Como que você está? – ele perguntou.
- Estou bem e você?
- Não sei como estou – então ele riu – Está tudo bem mesmo?
- Tirando o fato de que parei de entender o ser humano, tudo numa boa sim... Não saber como está é bom ou ruim? – eu ri desconversando.
- Ser humano é uma arte, para ser bom ou ruim precisa de perspectiva.
- Uma arte bem abstrata e surreal – eu ri, não sabendo mais se ainda falávamos a mesma língua.
- Né? Eu estou lendo “A arte de amar”. Eu julguei o título do livro, mas é ótimo!
- Está aí um livro que queria ler e nunca li... – disse isso me referindo a ele e não ao livro.
- Recomendo.
- Depois de passar o meu vício por poesia eu vou ler! – desta vez me referi ao livro.
Ele riu e apenas respondeu:
- Está aí um ótimo vício!
- Um dos meus melhores...”
O outro é amar! E assim voltamos ao começo da história. O que estou pondo na minha vitrine?
               -Estava aqui pensando...

Dia 10 de Maio de 2017, Vicenzo Vitchella.