“- Estava aqui
pensando... Não te enoja saber que hoje em dia as pessoas se dão ao trabalho de
serem descartáveis?
- Serem
descartáveis? Pode me explicar melhor? – ele perguntou.
- Independente
de como a pessoa se defina, me parece que de um modo genérico, cada vez mais as
pessoas estão postas em vitrines, com seus perfis para serem compradas como
mercadorias, superficiais, embaladas, montadas, para serem perfeitas para um
exato momento e nada mais...”
Terminei com
um “salvo raras exceções”. Ele não me respondeu mais. Habitualmente não me
responde, e isso até não me surpreende. Não era sobre ele. Nem mesmo sobre uma
situação que nunca chegou a nos acontecer. Era sobre aquilo que estava pensando
por horas, e que apenas alguém como ele poderia entender. Pelo menos dentro da
minha cabeça! Ele assim que nos conhecemos se despiu de seus pudores, e eu precisava
entender seus enigmas e todas as palavras que raramente trocávamos.
Vitrinismo.
A arte de arrumar vitrines. E que bela vitrine esse mundo se tornou!
E pensar
que toda esta loucura surgiu ontem de tarde, quando resolvi mandar uma foto de
uma poesia que estava lendo, chamada “Dor Oculta” de Guilherme de Almeida. E por
sinal nem havia reparado em algumas coincidências tais como o nome do poeta, e essa
dor oculta que ninguém enxerga. Então entre tantos Guilhermes, um me respondeu:
“ – Oi Vinicius,
adorei o poema, Guilherme de Almeida o autor?
- Isto...
Sete horas
depois:
- Como que
você está? – ele perguntou.
- Estou
bem e você?
- Não sei
como estou – então ele riu – Está tudo bem mesmo?
- Tirando
o fato de que parei de entender o ser humano, tudo numa boa sim... Não saber
como está é bom ou ruim? – eu ri desconversando.
- Ser
humano é uma arte, para ser bom ou ruim precisa de perspectiva.
- Uma arte
bem abstrata e surreal – eu ri, não sabendo mais se ainda falávamos a mesma
língua.
- Né? Eu estou
lendo “A arte de amar”. Eu julguei o título do livro, mas é ótimo!
- Está aí
um livro que queria ler e nunca li... – disse isso me referindo a ele e não ao
livro.
-
Recomendo.
- Depois
de passar o meu vício por poesia eu vou ler! – desta vez me referi ao livro.
Ele riu e
apenas respondeu:
- Está aí
um ótimo vício!
- Um dos
meus melhores...”
O outro é
amar! E assim voltamos ao começo da história. O que estou pondo na minha
vitrine?
-Estava aqui pensando...
-Estava aqui pensando...
Dia 10 de Maio de 2017,
Vicenzo Vitchella.
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