segunda-feira, 12 de junho de 2017

Depois

Alguém ficou feliz porque citei a frase: “Ganharei cinco quilos a mais”. Outro alguém disse, que com absoluta certeza, eu passo mais frio por ser “magrinho”. E tem pessoa que só responde quando bem deseja. O último não julgo, muito pelo contrário, o admiro. Não fica esperando por uma resposta, quando é detentor das perguntas.
E teve aquela que disse que se eu fosse um pouco mais gordo as pessoas caíram matando: loiro (naquela época, meus cabelos possuem estações) de olhos verdes! “Não sobraria ninguém”, segundo sua visão distorcida e apaixonada, que deixa tudo bem mais bonito e romântico do que o original que veio de fábrica (cirurgia plástica da química corporal - em outras palavras: o amor é cego).
Sim, realmente não espero coisas do tipo: “você é perfeito!”, “você é maravilhoso!”. Não sou tudo isso. Na verdade não sou mesmo tudo isso (considere essas palavras em negrito, caps look e com uma fonte maior, está frio e não quero mover minhas mãos). A genética não ajudou? Ajudou, claro que ajudou, não falo mal de meus genes, nem renego-os (vai que conspirem contra mim do mesmo jeito que meus cabelos quando ouvem a frase: vou sair de casa!).
“Você não deve comer nada”. Um parente de minha mãe certa vez sugeriu que eu passava fome, falando para ela buscar ajuda na assistência social e me dar multimistura para comer. Outra vez fui chamado pela coordenadora da escola, para saber se eu tinha o que comer, porque tinha os braços muito finos, e era muito magro para não estar passando fome.
Se me feriu? Nos primeiros anos, me feriu muito. Depois passei a brincar junto, da minha própria situação, como aquele ditado: se não pode com eles, junte-se a eles! Na dúvida, quando não gosto mesmo da pergunta, despejo meu veneno e minha dramaturgia barata:
- Por que você é assim tão magro? – ela me pediu indo para um congresso científico no período da universidade, sem me conhecer e olhar com estranheza.
- Porque eu tenho bulimia – e virei o rosto para a janela do ônibus com uma cara de choro (isso não é bonito, eu admito!), rindo por dentro e só querendo ouvir minha música em paz. Isso apaziguou os seus demônios com relação a mim. E acabou criando os meus demônios internos. Por que não poderia engordar, se comia como um condenado? 
Metabolismo? Doença crônica? “Você precisa ir para a academia!”. E lá fui eu passar alguns meses, tomando suplementos, até não ter mais tempo para ir e perder a vontade. Fazia isso para quem? Para mim? Precisava ser um "padrãozinho"?
Então, depois de não ser o tipo de ninguém, passei a ser o meu próprio tipo. 
Véspera do dia dos namorados (o dia de presentear alguém, como se o simples ato de amar já não fosse um belo presente, quando se ama é claro!), frio adequado para um domingo em casa, Marina and the Diamonds (Electra Heart - coração na bochecha), sopa quente (depois de dois pratos de macarronada, contrariando a ideia de quem pensa que não como), uma taça de vinho tinto suave, e um belo roteiro de lugares para amanhã.
Começarei cedo fazendo um café da manhã com frutas, ovos mexidos, bolachas e pães decorados. Depois a tarde, vou sair até o lugar que sempre frequento, beber mais café, com torta de limão, pão de queijo,  tudo que tenho direito. Vou passar e me dar um presente (aquela camiseta listrada, que faz tempo que namoro em uma vitrine), no fim da tarde irei fazer um chá, sentar ler um livro que amo e esperar as estrelas aparecem no céu, deixando o horizonte escuro e denso, e minha alma na calmaria das praias desertas e intocadas. Espero pegar o filme da sessão das nove, comer pipoca e voltar para casa acabar minhas obrigações acadêmicas.
E só depois, bem depois que for alguém “normal”, você não precisará dizer que sou completo, que me quer por perto, porque já terei alguém que sempre me quis muito bem. E este alguém sou eu. Este alguém sou eu. Não estou procurando e nem sendo procurado. Estou me amando sem me sentir culpado. Cansei de colocar meu amor em qualquer porcaria. 
E que depois de todo amor eu ainda possa amar sem esperar a perfeição, olhando mais para o meu coração, deixando o que é passageiro de lado. Querer o profundo e menos o raso é errado? Se for um erro estarei condenado, um condenado amado. Um condenado que ainda enxerga poesia na humanidade, na fração do segundo que ninguém mais ousa enxergar.
Então, depois de não ser o tipo de ninguém, passei a ser o meu próprio tipo: um coração sem estereótipos que ama sem pensar. Que amanhã seja um bom dia! Por que não iria me amar? Um brinde aos que se amam sem um DEPOIS.

Dia 11 de Junho de 2017, Vicenzo Vitchella.

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