Eu o
encarrei, cara a cara, como um homem contra um touro, e o segurei pelos chifres
enquanto ele bufava e arfava um hálito imundo cheio de soberba. Ele tinha os
olhos daqueles que me feriram, que cuspiram no chão em que pisei. Ele sorria como nas
tantas vezes em que os sorrisos eram de mim e não comigo. Não me debrucei sobre
o chão, como notavelmente estava acostumado, nem sequer dobrei os joelhos
contra toda a força que me empurrava para baixo. Será que me encaixo? E quem
disse que preciso me encaixar?
Rasguei meu
rótulo e deixei de ser um produto, passei a ser minha própria fabricação. Colori
meus cabelos e liguei a minha velha canção, como naquelas cirandas de quando
apenas eu era mais um dentre tantos na rua da minha casa.
Encarrei um
corredor da memória todo em branco, com portas marrons e fechadas. Abri todas
elas e fiquei sem chão. Por que eu não deveria ser assim? Por que eu deveria
ter tanta razão? O que eu fiz comigo mesmo? Por que cheguei nesta situação? Por
que deixei de viver por mim mesmo quando cheguei exatamente no meu refrão?
Abri as
janelas, e corri para o nada. Colori as minhas dores com cores e mais cores,
cheio da plenitude das coisas menos egoístas... As pessoas ao meu lado estavam
ruindo, e eu apenas me matando e me destruindo... O que foi que eu fiz comigo? Por
que não estava lá quando precisavam? E olhei para aquele animal, que passou a
cuspir fogo, e colocar mais pressão sobre as minhas mãos... Minha cabeça rodou,
precisava cair para me levantar...
E quando
acordei deste sonho todo, me sentindo um decadente patético, vivendo a vida por verdades que nunca me pertenceram, me tornando uma pessoa que nunca fui, me perguntei:
“Você é foda, por que fica nisso? Você gosta de esmurrar ponta de faca?” Não,
eu não gosto.... Gritei para o espelho que não! Eu tinha razão... Por que não me
desapegar do passado?
Então me
feri, caí sobre pedras que já atirei sobre os outros. As pedras que ficaram
pelo caminho... Cadê todo mundo? Por que estou sozinho? Não adiantava chorar
esperando que um rio de lágrimas levasse o meu barco para longe de toda aquela
tragédia. Eu era um museu de sentimentos velhos.
O touro da
humanidade pisou sobre mim como quem pisa no nada. Eu não era a minha
existência. E por dentro tudo se quebrou como se fosse vidro, em pedaços
pequenos de alguém que ficou ruído.
- Não é
fácil viver! Me tire daqui! – eu gritava. Eu havia aprendido a amar e aquilo me
machucava... Era como ter rosas e só ver os espinhos.
Então me perguntou:
- Por que
tudo isso agora e não antes?
Pelos chifres.
Peguei o touro pelos chifres. Levantei e coloquei o meu melhor sorriso. Passei a
amar sem hábitos, de improviso. Brotaram flores, versos, melodias, estrelas no
céu. Constelações que antes eram vazias, brotaram em todos os meus refrões. Pelos
chifres, eu disse... Pelos chifres.
Meu coração
parou de doer quando vi que era um incomodo e não um amor. Sofrer não é amar é
submissão. Me encarrei no espelho: “É tão bonita a sua paixão!”. Eu sou um
homem e não um museu. Estou no centro do meu universo.
Dia 27 de Julho de 2017,
Vicenzo Vitchella.
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