domingo, 9 de julho de 2017

Superfície

Esbravejei: tudo que é muito denso sobe para a superfície? Me calei, resolvi silenciar mas me perguntei: “Vinicius, o que você está fazendo?”.
Todos temos nossos próprios monstros e demônios, nossos carmas pessoais, ou como queira intitular esta droga. E se eu estiver impondo força desnecessária sobre coisas que não fazem mais nenhum sentido? É errado querer plainar sobre o “sobe e desce” do horizonte e ver tudo mais plano e mais longe? Ver um pouco mais concreto e menos ilusório? Abrandar meu coração com outras perspectivas?
Me pergunto se não sou ingênuo a ponto de acreditar que levantar uma bandeira branca de silêncio ameniza algum fato. Não posso sorrir, não posso ser aquilo tudo que tenho dentro do meu peito. Me vejo preso dentro de um mundo que eu mesmo construí. Um lugar que ás vezes é tão pesado e nunca chega até a superfície. E pode ser que seja coisa de matéria, densidade, de sentimentos que não fluem, de palavras mal colocadas, de dor que nem mais se sente, de culpa e receio, do medo que extrapola a boa educação.
Estou trazendo para a superfície todo o homem que montei nestes meses. Estou trazendo e dando vida, colorindo o pouco que posso. Talvez precise de um branco de silêncio e sumiço e não de todas as cores do mundo.
Não me permito amar um centímetro a menos, não permito que as coisas me destruam aos poucos, porque eu já me destruí tantas vezes, já me fiz em tantos pedaços, já quis tantas coisas ruins e sempre acabava sendo exatamente a mesma coisa. Não importava se os personagens da história tivessem sido substituídos... Mas eu gritei! Eu gritei porque eu não queria ser apenas mais matéria, não queria mais ser apenas o homem dos cabelos ressecados, o homem que não pode cruzar a fronteira e subir como um pássaro no céu, desvendar novos horizontes dentro de outros olhos e seres humanos.
E acreditei, coloquei força nas palavras que diziam: tudo que for escuro, tudo que for falso, tudo que for raso, chegará a superfície ou morrerá sem ar sobre todas as águas dos oceanos mentais. Sim. Eu posso fechar os meus olhos e dormir sem culpas.
Não quero falar, ver e ouvir, quero a superfície. Quero aquilo que é respirável. Não vou meter os meus pés pelas mãos, quero coisas mais grandiosas do que amores não resolvidos, ilusões e coisas desnecessárias. Esses são os meus hábitos, mesmo que contrários.
E se puder fazer uma poesia por dia eu faço. Se puder cantar todos os dias eu canto. Se puder falar o que tenho dentro da minha cabeça, pipocada de estrelas e buracos negros, eu falo, eu falo em um tom mais alto, mais claro e mais vibrante.
Porque machuca estar submerso. Não foi para isso que esculpi um homem capaz de sorrir de dores, colocando vida em um pedaço de pedra fria. E me pergunto: “Where do you think you're goin'?”. Eu não sei, mas me deixe ir, me deixa ser a ida e a chegada. Eu já tive tanta volta e despedida. Já morri tantas vezes junto com o sol virando a noite. Meus olhos verdes já cansaram das tonalidades da escuridão. Quero ser mais perceptivo.
Superfície. Trazendo a tona o homem que moldei. Não andar pelo mesmo caminho, não errar nos mesmos erros, não criticar a mesma mania de falta de perspectiva. Superfície. Cansei da chuva e do céu carregado. E pelo silêncio e do silêncio, uma bandeira branca e sem cor, sem gênero, sem obrigação.
Esbravejei: tudo que é menos denso sobe. Me calei e acabei explodindo cores para todos os lados, encerrando o espetáculo do meu papel de trouxa. Que sobreviva na superfície apenas o que é verdadeiro e a minha fome do mundo. Nem mesmo Deus afunda o Titanic?

Dia 09 de Julho de 2017, Vicenzo Vitchella.

Nenhum comentário:

Postar um comentário