domingo, 20 de agosto de 2017

Cê Acredita?

Cê acredita? Não vou falar sobre sarrar no ar, nem sobre rebolar e arrastar o bumbum no chão. Vou falar sobre o que sei falar, como ser ingênuo e destruir o próprio coração. Talvez eu seja louco pela demasia que choro, que amo, que acredito, que sorrio, que quebro tudo que me rodeia, que implanto incômodos e questionamentos imbecis. Mas eu sou um idiota, cê acredita?
Sim. Eu acredito.
Cê acredita no amor? Você só quer sarrar no ar. Diz que vai abandonar, mas não abandona, banca o irresponsável, a cadelona. E eu tenho que engolir o meu choro. Não é amor é abandono. E não vou correr para você na primeira oportunidade... Não é por ser covarde, é por saber que você é uma grande mentira!
Cê acredita nisso que escrevi? Amor é um sentimento para sentir e não para colocar dentro do novo acordo ortográfico. Não preciso gastar tinta da minha caneta esferográfica preta, nem erguer um copo de desilusão para ter uma ressaca de amargura, pensar em você agarrado na minha cintura, falando sobre o quanto sou um desgosto. Me afastando pelo pescoço, dizendo que não fui feito para ninguém, me tratando com desdém, acabando com a minha vida aos poucos.
Cê acredita? Eu não acredito. Eu não menti, talvez eu omito. Mas você destrói o que construo todo dia. Parece que vivo na alegria, mas quem sabe fui eu que provoquei a tempestade de ontem. Chovi por dentro mostrando meus dentes, me afastando de suas correntes, amar acaba sendo destrutivo.
Então eu volto para meu livro, eu leio a minha ficção. E começo a retratar a minha própria ilusão. Qual deve ser a minha imagem? Não sou covarde para aceitar que amo, sou extremista e isso não muda.
Quando seus olhos me enxergam desprevenido, invadindo espaços que não poderiam ser teus, e quando os universos que tenho no peito são sufocados por sua patética fixação do palco, eu me pergunto: “Você está pedindo para morrer?”, saio correndo para me defender, mas já é tarde.
Mas está tudo bem! Cê acredita? Eu encontro o que procuro na paz do voo do pássaro, no vento de chuva que muda o sol de um domingo, no sorriso patético de gente estranha que encontro na rua, na chuva que leva tudo do caminho, quando estou em silêncio e sozinho, quando lavo a louça depois do almoço.
No amor? Sim. Eu acredito.
Não vou acreditar menos por ter sido ferido. Nem menos por gritar, sem alguém ter me ouvido. Não precisa ser real e fazer sentido, a literatura não cria estórias? Me escondo atrás de mim mesmo, e de uma sessão horrenda de cinema. Eu sou figurante da minha própria cena, capítulo atrás de capítulo, livro atrás de livro, fala atrás de fala. Eu sou um idiota, cê acredita?
Meu Buda de gesso tem mais sentimentos do que você. E meu coração de poesia detesta o seu realismo crônico. Sou bucólico mas não sou santo. E sou egoísta quando se trata de ser simbólico. Sarrar no ar, rebolar no alto...
Cê acredita no que diz?
Eu não. Este Homem Amor entrou no CTI.

Dia 20 de Agosto de 2017, Vicenzo Vitchella.

2 comentários:

  1. De todas as palavras que o querido Vicenzo já soltou por aí, estas são as que justificam o porquê de eu gostar tanto dele, cê acredita? Simplesmente maravilhoso.

    Boa semana! 💕

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