quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Gemini

Não fiquei preso na barreira dos seus olhos escuros. Já estava preso há algum tempo dentro de um universo não beijado, que não era poesia e nem mesmo qualquer uma das tantas porcarias que já senti quando enchi uma folha de caderno ou um livro.
Tenho a vontade de gritar milhares de vezes as palavras porra e caralho, porque não é estar preso na barreira dos seus olhos, mas transpassar e me sentir livre, no suspense todo onde não habitam mais as palavras. Neste maldito silêncio...
Não vou falar com metáforas sobre o peso do silêncio, de quando volto comigo mesmo para casa, cheio de sua ausência. Talvez seja uma maneira de entender com mais clareza a sua metáfora, onde depois eu disse:  
- Não corte a árvore. O erro não é dela. O erro é do mundo que exige que ela dê frutos em todas as estações...
E esse tem sido um problema. Querer todas as folhas, frutos, flores e ramificações da sua presença todo segundo, quando seu queixo está sobre meu pescoço com seu rosto rosado, perdendo a noção do que é o tempo lá de fora. É difícil escrever para uma pessoa real e não idealizada.
Sim é sobre ti. Sobre ti quando o peito dispara, e eu fico calado como um imbecil que sou. Quando a ausência das palavras chega e fico olhando pela lateral, seu sorriso expressivo como uma placa luminosa cheia de sol. Sobre ti e o seu lindo jeito de calar a minha boca, com palavras imprevisíveis que me deixam extasiado...
Querer se molhar com a doçura de seus gestos e pegar uma gripe, não é castigo. Querer sentir tudo que nunca havia e nem pensei ter sentido, quando vejo sua presença tão sólida para meu material inflamável, passou a ser o meu abrigo. Seria cedo para dizer qualquer coisa?
Te colocar acima não é loucura, é um resultado. Não um resultado qualquer, de uma operação matemática. Contigo eu paro no tempo. Contigo nada mais me importa. Estou errado? Castor e Pollux....
É toda a sua maneira de encarar a vida, que não é pouca. A vida toda que tem a sua altura exata, nem mais e nem menos. O jeito todo de quando sinto que posso fazer acrobacias na minha cabeça, quando falo “como você está se sentindo?” e você responde “Eu não sei”. Não saber é um paraíso. Eu repouso em ti quando adormeço descalço.
Poder morder os seus lábios que me calam, quando perco a razão em demasia, quando sei que não caibo dentro de nada. Você bem mais universo, talvez infinito e tantos. Eu apenas um verso simbólico e rascunhado. É permitido não tirar a imagem dos seus olhos da minha cabeça? Pois eu não desejo.
Você é um acerto. Uma questão descritiva sobre quem quero ao meu lado. Feita sem uma didática estabelecida, sem o rigor pragmático de uma metodologia clássica. Sim é sobre ti. Sobre a falta das minhas palavras. Das minhas justificativas tardias, confundidas com um cavalheirismo doentio. Do que adianta ter em mim todas as cores e as flores, se este sentimento repousa quieto e calmo?
Me afaste com um mar de tempestades, que mesmo assim lhe enfrentarei com minha jangada de cordas e galhos. Poderei dizer:
- Eu vi ele na primeira vez que colocou um sapato. Estava lindo, mas transpassei o seu olhar e me senti livre. Tão livre que o beijei me desmoronando, jogando minha existência para tudo que é dele.
Não corte a árvore, ela me faz chegar perto do céu. Seria cedo para dizer qualquer coisa? Não corte a árvore. Se não for para dar frutos, dê flores e um significado. Estou criando um dicionário inteiro para ti. Nele consta apenas o seu nome, e dentro dele tudo o que eu já aprendi e senti contigo.

Dia 08 de Fevereiro de 2018, Vinicius Osterer.

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