Se
pararmos para pensar (quando quisermos parar e fazer isto), nunca se atentamos
ao que parece ser tão óbvio. Complicamos com palavras que não são ditas, ou
ditas até demais. Complicamos a maneira de encarar um imprevisto ou a nossa
ausência de maturidade. Complicamos de uma forma ou de outra o que não deve ser
complicado. Se me permitir exemplificar com uma ideia rasa e pouco elabora, para
quem não se permite olhar o “óbvio”, o próprio sentido da palavra “óbvio”, não
será nada “óbvia”. E dentro desta brevidade de pensamento, surge em mim e em meus
olhos, algumas das coisas que já me referi há muito tempo por aqui, sobre
minhas opiniões quando o tema é a classificação e a criação de rótulos sociais,
ou como queira autodenominar.
O que de
fato aconteceu é que estava sentado na cama com um bocado de papéis em branco, esperando
que eles fossem preenchidos com ideias que não vinham. Me deu aquele branco
ingênuo e cheio de inocência, de quando a gente se apavora contra o tempo
perdendo o fôlego e a noção de todos os cinco sentidos. Calma, respira...
Pensei
“até que ponto estava sendo neutro? Até que ponto estava errado?” Ontem mesmo
na aula de didática fiquei sabendo que a educação não era neutra, e passei a repensar
se o que eu fazia era tão neutro assim, com as minhas colocações. Dentro de um
processo que eu carinhosamente chamo de “ampliação psíquica através da
influência dos meios digitais” (olhar as redes sociais ao acaso e sentir-se
estimulado para produzir alguma coisa por outra coisa), me lembro de um projeto
que cheguei a olhar anteriormente com outros olhos que não os de hoje.
Quinta
passada, inserido dentro de um mundo aparentemente amável (onde eu habito, mas
regido pelo caos), chegou até mim um projeto de fotografias que muitos diriam
“são apenas fotografias”, mais especificamente nus artísticos. Passei meus
olhos rapidamente e me questionei quais eram os seus intuitos, pois algo em mim
dizia que o que constava na descrição sobre o projeto, era mais denso do que eu
esperava (quando se tem muita água no seu mapa astral, confie sempre na sua
intuição, se acreditar é claro!). Nunca fui aquele tipo que se inquietava se
dissessem que o sol era amarelo. E dentro deste amarelo todo, tinha cor demais,
era um amarelo bem colorido. Cor até que nem eu imaginava que existisse. Fiquei
com esta ideia fixa pelo fim de semana todo, rolando umas palavras daqui e dali,
até o episódio de hoje sentado na cama.
Na descrição do projeto:
“Jacinto é um projeto fotográfico de resistência,
confrontação de padrões e, acima de tudo, orgulho gay.”
Fiquei
pensando até que ponto existiria uma diferença entre aquilo que estava ali
escrito (o que eu entendia) e o que eu não conseguia enxergar (o que de fato
era). E não me atentava que a própria resposta era o tal do “óbvio”. Quem não
olha a outra pessoa como um ser humano, que de fato é, continuará mordendo a
cauda do ciclo de depreciação, distanciamento e sucateamento humano em que vivemos
(péssimos tempos, diga-se de passagem). A simplicidade de um movimento, parado
em determinada foto do “Projeto Jacinto”, pareceu enaltecer a vida que existia
dentro de todo aquele caos de quem se propôs a fotografar.
O ser
humano precisa sentir na pele. É sentindo na pele que evidencia-se o real do
que é acessório, o necessário do que é superficial. Sem puderes, sem coisas que
os deixam cada vez mais reféns de si mesmos, criando certa resistência. E
resistir passa a ser um sentir.
Muitos antígenos são
inseridos dentro de nossos corpos ainda na infância, para criarmos a capacidade
de resistir e dar suporte aos nossos anticorpos, quando entram em contato com
determinadas enfermidades. Confrontar o padrão e exaltar aquilo que se é, passa
a ser um antígeno moderno de resistência.
E
procurando uma ideia para encher um bocado de papéis vazios, depois de ficar absorvido
com o trabalho fotográfico de Anderson Favero, consegui fazer o que não
pretendia, observar o que é tão óbvio de um jeito singular e não tão complexo. Observando
o óbvio me dei conta de que já sinto um punhado de coisas, e por me permitir
senti-las estou cada vez mais resistente e confiante que o “tempo líquido” de Bauman,
é apenas uma perspectiva pessimista da realidade.
(Para quem
se interessar pelo projeto: https://www.instagram.com/jacinto.foto/)
Dia 20 de Março de 2018,
Vinicius Osterer.
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