Para mim e
digo apenas por mim, comecei a fazer o que mais temia, categorizar e separar as
pessoas por classes distintas na maneira como sentem e são sentidas. São três
de uma maneira geral que eu conheço: as dromedárias, as beduínas, e as oásis.
As dromedárias,
como o nome já diz, são aquelas que te fazem sentir que não estão sozinhas no
meio do nada, te levando de um ponto ao outro, com o menor gasto de recursos
possíveis, por não serem complexas e estarem adaptadas ao ambiente em que
vivem. É desta forma que amam e que aprenderam a amar, dando tudo de si em um
sacrifício constante de levar consigo e em suas costas uma bagagem imensa de
universos e histórias, por longos dias, anos ou décadas, pisando em terreno
arenoso e não estável. Podem ser sentidas como cheias de seus altos e baixos (corcovas),
mas adaptadas a todas as intempéries possíveis para se manterem vivas, não
deixando o amor se perder pelo caminho.
As beduínas
são como os povos nômades do deserto, não estabelecendo um lugar para ficar e
sentir, mudam de sentimentos como mudam de lugar, dentro de um egoísmo (de natureza humana) exaltado no alto da cadeia
alimentar e cultural que elas mesmas inventam. Donas de si, sabem para onde
precisam ir, e nunca estão sozinhas. Sentem-se solitárias, e nunca irão cruzar
o deserto sem alguém, muitas vezes amparadas por dromedárias ou espécies que
ainda não me foram sugeridas e/ou observadas. Amam aquilo que é benefício para
mantê-las seguras e salvas, perante a falta de conforto e de recursos, que não
podem carregar com as mãos e dentro dos bolsos. Enfrentam o calor dos dias e os
frios da noite, sabendo que sozinhas não poderiam viver por muito tempo. Escondem-se
atrás de proteções (vestimentas), criam expectativas falhas e finitas com prazo
de validade (criação de cabras para o abate). Podem ser sentidas como
verdadeiras vencedoras e guerreiras, por vivenciar situações não consideradas “normais”
pelos demais, mas não se engane, são bem adaptadas e como qualquer outro animal
de natureza humana odeiam serem contrariadas em seus ideais, estabelecendo uma
relação pelo o que alguém pode lhe propiciar e não acrescentar na vida.
Enfim
chego nas oásis. As pessoas que mesmo que sintam ao seu redor um punhado de
deserto de sentimentos, conseguem manter-se vivas e fiéis pelos rios mentais
que as alimentam (fé, esperança, amor...). Tendem, na sua grande maioria,
gostar daquilo que parece impossível (amam dromedárias e beduínas), com péssimo
hábito de sofrerem por aqueles que sofrem por terceiros. Permitem-se ao papel
que lhes cabe, deixando repousar sobre suas sombras todas as outras pessoas,
que buscam relaxamento, que precisam espairecer e tomar um ar, dar um tempo, levando
alguma coisa delas e desaparecendo como visagens no horizonte. Transformam o
pior dos lugares em lugares adaptativos, pois nasceram para isso e não
conseguem relutar contra sua natureza inventiva, construindo castelos de selva
no meio do nada. São buscadas no fim da vida ou no fim das decepções, que todos
os outros levam pelo caminho, como uma forma de conforto e paz imediatos. Mas,
não se engane, pessoas oásis podem ser sentidas como frágeis e equilibradas,
dispostas a distribuir vida, porém escondem dentro de si um punhado de
diversidades e venenos que apenas o tempo (por aparentemente parecerem sempre
imóveis) lhes deu de aprendizado. Suas mudanças nunca são repentinas e nem
planejadas, mas espontâneas e para cima. Você nunca verá uma oásis ser a mesma oásis duas vezes, apesar de não demostrar reais mudanças.
Aprendi a
ser uma oásis, não digo que serei uma oásis para sempre. Sempre ser uma oásis é
complicado, quando se tem aquele bocado de vida em um mundo completamente
deserto (é bonito ser a vida rasgada, dentro das cicatrizes no desenho amarelo
de areia). E você, como você se identifica?
Dia 14 de Março de 2018,
Vinicius Osterer.
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