quarta-feira, 14 de março de 2018

Oásis

Para mim e digo apenas por mim, comecei a fazer o que mais temia, categorizar e separar as pessoas por classes distintas na maneira como sentem e são sentidas. São três de uma maneira geral que eu conheço: as dromedárias, as beduínas, e as oásis.
As dromedárias, como o nome já diz, são aquelas que te fazem sentir que não estão sozinhas no meio do nada, te levando de um ponto ao outro, com o menor gasto de recursos possíveis, por não serem complexas e estarem adaptadas ao ambiente em que vivem. É desta forma que amam e que aprenderam a amar, dando tudo de si em um sacrifício constante de levar consigo e em suas costas uma bagagem imensa de universos e histórias, por longos dias, anos ou décadas, pisando em terreno arenoso e não estável. Podem ser sentidas como cheias de seus altos e baixos (corcovas), mas adaptadas a todas as intempéries possíveis para se manterem vivas, não deixando o amor se perder pelo caminho.
As beduínas são como os povos nômades do deserto, não estabelecendo um lugar para ficar e sentir, mudam de sentimentos como mudam de lugar, dentro de um egoísmo (de natureza humana) exaltado no alto da cadeia alimentar e cultural que elas mesmas inventam. Donas de si, sabem para onde precisam ir, e nunca estão sozinhas. Sentem-se solitárias, e nunca irão cruzar o deserto sem alguém, muitas vezes amparadas por dromedárias ou espécies que ainda não me foram sugeridas e/ou observadas. Amam aquilo que é benefício para mantê-las seguras e salvas, perante a falta de conforto e de recursos, que não podem carregar com as mãos e dentro dos bolsos. Enfrentam o calor dos dias e os frios da noite, sabendo que sozinhas não poderiam viver por muito tempo. Escondem-se atrás de proteções (vestimentas), criam expectativas falhas e finitas com prazo de validade (criação de cabras para o abate). Podem ser sentidas como verdadeiras vencedoras e guerreiras, por vivenciar situações não consideradas “normais” pelos demais, mas não se engane, são bem adaptadas e como qualquer outro animal de natureza humana odeiam serem contrariadas em seus ideais, estabelecendo uma relação pelo o que alguém pode lhe propiciar e não acrescentar na vida.
Enfim chego nas oásis. As pessoas que mesmo que sintam ao seu redor um punhado de deserto de sentimentos, conseguem manter-se vivas e fiéis pelos rios mentais que as alimentam (fé, esperança, amor...). Tendem, na sua grande maioria, gostar daquilo que parece impossível (amam dromedárias e beduínas), com péssimo hábito de sofrerem por aqueles que sofrem por terceiros. Permitem-se ao papel que lhes cabe, deixando repousar sobre suas sombras todas as outras pessoas, que buscam relaxamento, que precisam espairecer e tomar um ar, dar um tempo, levando alguma coisa delas e desaparecendo como visagens no horizonte. Transformam o pior dos lugares em lugares adaptativos, pois nasceram para isso e não conseguem relutar contra sua natureza inventiva, construindo castelos de selva no meio do nada. São buscadas no fim da vida ou no fim das decepções, que todos os outros levam pelo caminho, como uma forma de conforto e paz imediatos. Mas, não se engane, pessoas oásis podem ser sentidas como frágeis e equilibradas, dispostas a distribuir vida, porém escondem dentro de si um punhado de diversidades e venenos que apenas o tempo (por aparentemente parecerem sempre imóveis) lhes deu de aprendizado. Suas mudanças nunca são repentinas e nem planejadas, mas espontâneas e para cima. Você nunca verá uma oásis ser a mesma oásis duas vezes, apesar de não demostrar reais mudanças.
Aprendi a ser uma oásis, não digo que serei uma oásis para sempre. Sempre ser uma oásis é complicado, quando se tem aquele bocado de vida em um mundo completamente deserto (é bonito ser a vida rasgada, dentro das cicatrizes no desenho amarelo de areia). E você, como você se identifica?

Dia 14 de Março de 2018, Vinicius Osterer.

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