Não sou um
mártir. Aqui estou. Estou novamente acordando pelas tantas da tarde, depois de
ficar quase um dia todo acordado, respirando, produzindo e vivendo a vida. Enchendo
a cara, com a resseca derradeira de um sábado abafado, precipitando o Samhain e
a Lua Rosa de Domingo. E não sei, porque talvez alguma coisa tenha mudado por
tudo aqui fora e aqui dentro.
Acordei com
minha sobrinha me dando três flores de vinca e dizendo:
- Para
você colocar na sua roupa Tio Vini!
Obviamente
ela anda reparando que seu tio vem colocando flores mortas e artificiais por
toda parte. Vem cultuando um punhado de plástico agarrado sobre metais e
produzidos em série, como os amores modernos ou as tragédias que estou colhendo
nos livros de leitura obrigatória. E o que vou fazer com um punhado de flores
roubadas?
Ontem fiquei
uma hora sobre o sol quente, tentando fazer com que florescesse em mim algum
punhado de cor que já tive. E sempre volto para a tríade, de alguma forma, com
Cailleach, o terceiro signo astrológico, o céu em escorpião, minhas três
xícaras de chá pela manhã. Aqui estou. Seria propício acreditar na regra dos
três dentro da simbologia dos meus dias, criando novamente velhas manias de
retratos mentais já mortos? Trilogias, triângulos mágicos, três capítulos...
Alguns dizendo
que vivo uma história pesada. Não entendo qual é o peso, se ele não me enverga
sobre as pernas. Não é como me sufocar de ar, mas encher o peito com tanta
profundidade e discordar que não existem coincidências. Olho de tigre no peito,
sabendo da aliança que ele representa.
Fluir em
movimento retilíneo constante, abrir sobre o peito um buraco que expurgue para
fora o punhado de material que já não presta, que já senti, já sinto, já
acumulei por muito tempo.
Quem sabe
ninguém nunca entenda o punhado de referencias que coloco numa poesia e em um
texto. Ninguém precisa saber que no meu novo livro repleto de mitologia eu
perdi o mito, criando diálogos imaginários que nunca tive e adaptando os que
gostaria de ter tido para evitar um punhado de silêncios. Ninguém precisa saber
qual é o terceiro signo, sobre o que é a trilogia, qual é a minha fórmula de
derrota e fracasso. Ninguém precisa saber, porque ainda estou aqui. Ainda posso
dizer o que quero, da maneira que quero, sem precisar explicações. E me
perguntam o que tanto escondo. Não há nada escondido, está tudo aqui, de uma
vírgula a um ponto de exclamação!
Andei perguntando
para a Lua o que ela tinha para me dizer sobre isso. Parei para escutar a
terra, enchendo meus pés de sabedoria. E sabe o que vou fazer com todo o meu
amor? Não vou transformá-lo naquilo que mais desprezo, nem em amargura ou
ressentimentos. Toda vez que desejar lhe bater com força, coloco uma semente em
um vaso. Nas vezes que lembrar de todos os seus silêncios, coloco duas. Nos dias
antes de dormir que pensar em como fui idiota, coloco três. Para cada mentira
que você me contou, mais quatro. Depois disso, quando vier o Equinócio de
Setembro, que me fez Senhor das Madrugadas, espero ter um punhado de vasos
floridos das sementes que plantei. Quero reunir todos que amo, fazer um chá no
gramado de baixo, e distribuir os mais variados tipos de cores e odores. Não posso
machucar o mundo se fui machucado. E ainda espero que sejas muito feliz. Você não
é uma sombra, é o processo.
Dia 28 de Abril de 2018,
Vinicius Osterer.
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