segunda-feira, 26 de junho de 2017

Rancores e Nomes

Tantas vezes paro por um determinado tempo pensando sobre o que escrever. E escrever tem que, pelo menos para mim, ter um bom motivo. E acho que precisava escrever por este: para dizer que lhe quero bem, mesmo não o conhecendo.
Estou colorindo minha poesia para o mês de Julho com todas as tonalidades possíveis. E poderia pensar que a vida é injusta, que eu nasci para sofrer, que tenho lições cármicas pesadas. Mas prefiro acreditar que existe mais vida do que qualquer outra coisa. Mesmo que essas outras coisas pesem e façam os meus joelhos dobrarem, minhas mãos se juntarem, e meu coração pedir fervorosamente que aquele mesmo Deus que fez o céu e a Terra, o mal e o bem, possa se convalescer do meu sofrimento.
Bonito para mim não é um perfil daqueles invejáveis nas redes sociais, com um milhão e meio de fotos e amigos perfeitos, nos lugares perfeitos, fazendo as coisas perfeitamente calculadas. E hoje disse mais uma vez que aprecio todo e qualquer ser humano que fez sucesso por não ser aceito em sua totalidade. Talvez por que eu carregue um peso insuportável nas costas, dos meus dilemas, traumas e todas as coisas que tento me livrar todos os dias, aqueles pensamentos destrutivos que nunca fizerem bem para os meus olhos verdes, que ficam escondidos atrás de tanta existência e mistério.
Será que existe na face da Terra alguém que deseje por mais trágico que seja amar? Amar sem justificar que deixou de valer alguma coisa após tantas vezes que ficou ferido e machucado. É difícil e complicado? Quem disse que é fácil viver?
Passei a ser uma agressão. E cansei de ser o homem com rancores e nomes na cabeça. Queria preencher estes espaços com coisas que fossem mais produtivas e úteis. E esta produtividade e utilidade me carrega de deveres que são pesados, complicados de se entender ou desmistificar. Acabo sendo apenas uma agressão.
E se vou acabar meu artigo? Sim amanhã eu vou. Eu vou colocar uma roupa com mais cor, uma daquelas que eu tenho aos montes no armário, mas que não condiz com nada que esteja na moda. Eu não estou na moda. Eu não sou nenhum padrão. Se bom ou ruim? Depende dos dias. Preciso realmente sair de casa e sorrir? Preciso sair daqui deste lugar onde eu posso ser o que quero? Onde posso existir em cada canto e cada linha que coloco sobre um papel?
Eu não quero mais tomar remédios, usar símbolos, rezar e fortalecer a minha alma. Não quero ter que me preocupar se meus cabelos estão alinhados, hidratados, com a cor perfeita sem desbotar. Não quero mais viver para ter que provar que sei fazer o que faço, que amo projetar espaços, poesias, sorrisos e vida. Cansei destas coisas todas.
Preciso do vento sobre o rosto, aquela coisa inconsequente que faz a gente desapegar dos sentimentos baixos, das pessoas que não poderemos nunca ser. Eu nunca vou poder ser uma pessoa padrão. Não vou poder me encaixar dentro de uma opção, por que eu gosto de ser as minhas próprias possibilidades. Enquanto isso vou sofrer pelas pessoas erradas, amando quem não deve ser amado, e celebrando aquilo de bom que as pessoas vivem, o que elas são quando simplesmente desejam ser sem deixar vestígios e pudores.
Quando eu for embora me prometa, com todas aquelas luzes coloridas e todos aqueles drinques e conversas desconexas dos bares, que você vai ser feliz, vai fazer o bem para si mesmo, vai existir e vai acontecer. Ás vezes sinto que isso não é para mim. Não se preocupe, eu ando sóbrio o suficiente para ser assertivo. Mais amor pelo colorido, menos amor pelas coisas fúnebres e utópicas.
Ainda estarei por aqui, achando motivos para escrever, nem que seja para dizer: “Não te conheço mas te amo! Não te entendo mas não preciso entender! Eu lhe quero bem! Lhe quero desta forma!”. Talvez precise ser mais cordial e menos agressivo, sem justificar meus atos pelas atitudes externas.
E hoje, só hoje, eu posso ser um motivo. Cansei dos meus rancores e nomes.

Dia 26 de Junho de 2017, Vicenzo Vitchella.

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Leia Brasileiros!


Título: "O Beijo no Asfalto - tragédia carioca em 3 atos"
Autor: "Nelson Rodrigues"
Ano: 1995
Editora Nova Fronteira

Ah Nelson Rodrigues e suas tramas! Nesta bela crítica social, onde um homem por um simples gesto de amor e compaixão beija outro homem a beira da morte e acaba gerando um caos em diversas vidas, incluindo a sua. Até que ponto um beijo significa um crime? E amar o ser humano em sua essência e sem gêneros é errado? Como toda trama deste gênio, acabei o livro em lágrimas! (Confesso que sempre leio em voz alta, tentando - e apenas tentando - travar o diálogo de seus personagens). Apesar do gênero ainda ser pouco lido e agraciado, Nelson Rodrigues prova com seus personagens e falas marcantes, que nossa literatura nacional é riquíssima e significativa, com todo apelo social, críticas e polêmicas. Quem sabe um dia não terei o prazer de ser um dos personagens seus no teatro? (Um sonho velho, fazer dramaturgia, daí meu amor pelo gênero!) E acabo tudo dizendo: por mais pessoas como "Arandir" no mundo!

Mande sugestões de autores nacionais! 
💯🔰💖💀💋
Poesia? http://vinyandre.blogspot.com.br/

segunda-feira, 12 de junho de 2017

Depois

Alguém ficou feliz porque citei a frase: “Ganharei cinco quilos a mais”. Outro alguém disse, que com absoluta certeza, eu passo mais frio por ser “magrinho”. E tem pessoa que só responde quando bem deseja. O último não julgo, muito pelo contrário, o admiro. Não fica esperando por uma resposta, quando é detentor das perguntas.
E teve aquela que disse que se eu fosse um pouco mais gordo as pessoas caíram matando: loiro (naquela época, meus cabelos possuem estações) de olhos verdes! “Não sobraria ninguém”, segundo sua visão distorcida e apaixonada, que deixa tudo bem mais bonito e romântico do que o original que veio de fábrica (cirurgia plástica da química corporal - em outras palavras: o amor é cego).
Sim, realmente não espero coisas do tipo: “você é perfeito!”, “você é maravilhoso!”. Não sou tudo isso. Na verdade não sou mesmo tudo isso (considere essas palavras em negrito, caps look e com uma fonte maior, está frio e não quero mover minhas mãos). A genética não ajudou? Ajudou, claro que ajudou, não falo mal de meus genes, nem renego-os (vai que conspirem contra mim do mesmo jeito que meus cabelos quando ouvem a frase: vou sair de casa!).
“Você não deve comer nada”. Um parente de minha mãe certa vez sugeriu que eu passava fome, falando para ela buscar ajuda na assistência social e me dar multimistura para comer. Outra vez fui chamado pela coordenadora da escola, para saber se eu tinha o que comer, porque tinha os braços muito finos, e era muito magro para não estar passando fome.
Se me feriu? Nos primeiros anos, me feriu muito. Depois passei a brincar junto, da minha própria situação, como aquele ditado: se não pode com eles, junte-se a eles! Na dúvida, quando não gosto mesmo da pergunta, despejo meu veneno e minha dramaturgia barata:
- Por que você é assim tão magro? – ela me pediu indo para um congresso científico no período da universidade, sem me conhecer e olhar com estranheza.
- Porque eu tenho bulimia – e virei o rosto para a janela do ônibus com uma cara de choro (isso não é bonito, eu admito!), rindo por dentro e só querendo ouvir minha música em paz. Isso apaziguou os seus demônios com relação a mim. E acabou criando os meus demônios internos. Por que não poderia engordar, se comia como um condenado? 
Metabolismo? Doença crônica? “Você precisa ir para a academia!”. E lá fui eu passar alguns meses, tomando suplementos, até não ter mais tempo para ir e perder a vontade. Fazia isso para quem? Para mim? Precisava ser um "padrãozinho"?
Então, depois de não ser o tipo de ninguém, passei a ser o meu próprio tipo. 
Véspera do dia dos namorados (o dia de presentear alguém, como se o simples ato de amar já não fosse um belo presente, quando se ama é claro!), frio adequado para um domingo em casa, Marina and the Diamonds (Electra Heart - coração na bochecha), sopa quente (depois de dois pratos de macarronada, contrariando a ideia de quem pensa que não como), uma taça de vinho tinto suave, e um belo roteiro de lugares para amanhã.
Começarei cedo fazendo um café da manhã com frutas, ovos mexidos, bolachas e pães decorados. Depois a tarde, vou sair até o lugar que sempre frequento, beber mais café, com torta de limão, pão de queijo,  tudo que tenho direito. Vou passar e me dar um presente (aquela camiseta listrada, que faz tempo que namoro em uma vitrine), no fim da tarde irei fazer um chá, sentar ler um livro que amo e esperar as estrelas aparecem no céu, deixando o horizonte escuro e denso, e minha alma na calmaria das praias desertas e intocadas. Espero pegar o filme da sessão das nove, comer pipoca e voltar para casa acabar minhas obrigações acadêmicas.
E só depois, bem depois que for alguém “normal”, você não precisará dizer que sou completo, que me quer por perto, porque já terei alguém que sempre me quis muito bem. E este alguém sou eu. Este alguém sou eu. Não estou procurando e nem sendo procurado. Estou me amando sem me sentir culpado. Cansei de colocar meu amor em qualquer porcaria. 
E que depois de todo amor eu ainda possa amar sem esperar a perfeição, olhando mais para o meu coração, deixando o que é passageiro de lado. Querer o profundo e menos o raso é errado? Se for um erro estarei condenado, um condenado amado. Um condenado que ainda enxerga poesia na humanidade, na fração do segundo que ninguém mais ousa enxergar.
Então, depois de não ser o tipo de ninguém, passei a ser o meu próprio tipo: um coração sem estereótipos que ama sem pensar. Que amanhã seja um bom dia! Por que não iria me amar? Um brinde aos que se amam sem um DEPOIS.

Dia 11 de Junho de 2017, Vicenzo Vitchella.

quarta-feira, 7 de junho de 2017

Escrever Com a Cabeça

Não. Escrever com a cabeça não é minha habilidade. Escrevo com as mãos como uma pessoa normal. Exceto nos casos que escrevo dentro da minha mente, mas logo coloco tudo com as mãos no papel, com medo que se esvaiam para o cemitério das palavras e frases perdidas. Será que realmente se perdem?
Sim. Hoje eu preciso ainda ler um punhado bem grande de coisas da pós-graduação: artigos, dissertações, ideias e mais ideias... Fazer um punhado bem grande de citações, de esclarecimentos e coisas que eu devo de uma forma ou de outra comprovar. Mas, deixei para lá, sentei no computador e me propus a escrever alguma coisa sobre isso, sobre o livro que acabei de ler de meio dia, aquele que carrega Geraldo Viramundo e todo o seu mundo. Estou ouvindo aquele Pop Chiclete que me lembra o adolescente estranho que sempre fui, com espinha no rosto e tudo, cabelo liso de prancha, uma visão monstruosa do inferno!
Sim. Hoje eu preciso acabar pelo menos a introdução daquilo que vai ser o meu artigo de conclusão, mas resolvi fazer um banner bem bonito dos meus livros que estão em promoção, com a brilhante ideia aleatória “Quem vê capa, não vê coração!”, para o dia dos namorados, afinal quer algo mais romântico do que a Poesia? Dependendo de qual é claro, sem generalizações neste ponto. Não só livro de poesias, qualquer livro com uma história bonita, vai... Sem generalizar um gênero também (adoro ser redundante!). Tudo que seja mais empírico e não precise de métodos para ser colocado em prova pela ciência. Que dicotomia!
Escrever para o meu coração é uma coisa. Escrever para a minha cabeça é outra. Meus miolos não processam as informações, e não sei nem mais sobre o que estava falando... Ah sobre essa tal dicotomia, mas quero mudar de assunto, estou Viramundo ao extremo no dia de hoje.
Isso está me deixando louco, mais até do que já sou, mas tem dado certo. Publicações em dia, trabalhos da pós-graduação em ordem, artigo em processo de fabricação... Sem contar com o outro artigo que peguei para escrever. Tem o trabalho de paisagismo para uma amiga de longa data, a louça da pia para lavar, um celular problemático que, ainda bem, não liga mais (sobra mais tempo para as coisas), a revisão, de todo conteúdo que já aprendi na vida, para o Enem (quero fazer Letras ano que vem), esse punhado de coisas que habita minhas ideias mentais...
E as ideias do coração que não param de pipocar... Meu livro que está surgindo por completo, delineando os meus pensamentos do fim da tarde, quando saio para espairecer e caminhar, dando uma volta no lago. Coloco tudo no papel, mais precisamente uma página em branco do word (acabou minhas folhas, e nem para isso tenho dinheiro, é a vida!) depois dos meus vinte minutos de mantra, para desligar a cabeça e colocar o coração no lugar.
O bom disso? Me vejo com 24 anos, sabendo o que quero, sabendo o que não quero, participando de concursos, fazendo vestibulares, programando minha agenda para não me perder (me perdendo um pouquinho), lendo de tudo um pouco, pintando os cabelos de vermelho, ouvindo a música que eu gosto, com alguns livros de poesias publicados (mesmo que por mim mesmo). Com ideias vindo e vindo, como uma torrente de informações. E ainda tenho tempo para rir, para ler o que gosto, para sair beber com amigos, para fazer minhas orações e apreciar a vida nas suas sutilezas.
Sim. Hoje eu preciso fazer um punhado de existência! Não que eu precise de todas essas coisas, mas essas coisas precisam necessariamente de mim para existir. O que não seria de mim sem as planilhas, as agendas e as anotações? Esqueci de tomar as minhas vitaminas! Isso não precisa de lembrete, ou precisa? Um dia ainda quero virar o louco dos papeizinhos coloridos, até lá vou pintando meus cabelos.



Dia 07 de Junho de 2017, Vicenzo Vitchella.

domingo, 4 de junho de 2017

Colorido

Pronto para escrever e não sei por onde devo começar. Porque acho que isso nem mesmo tenha um começo. Não preciso falar sobre o garoto loiro da escola, sobre o menino estranho do ensino médio e sobre o homem de cabelos coloridos. Isso ou alguém já viu ou já ficou sabendo.
Não preciso falar sobre o que aconteceu com aquele jovem sem mãe. Com aquele que em tantas vezes falava tão pouco, mas que nunca desistiu e continua a persistir pelos seus sonhos. Não preciso falar nada sobre o passado. Acho que estou pronto agora.
Pronto para o quê? Para colorir o mês de Junho, o mês colorido de gêneros. Acho que estou pronto agora, estou me deixando levar por esta sintonia antiga, em que traço um objetivo e o busco com clareza de ideias e simplicidade formal. Eliminei a mim mesmo, o principal obstáculo. E não vou lhe dar de bandeja uma informação tão saborosa para os olhos. Quero debandar da filosofia prática para a sua mente. Talvez eu seja um pouco cheio dessas coisas sem função, mas com sentido. Junho colorido. Estou pronto agora.
Você tem uma velha crença, acreditando naquilo que acha o correto. De uma forma ingênua sabe que essa é uma verdade plena. Não comprovado por ser subjetiva e carecer de fatos, que você nunca viu, nem provou e provavelmente nunca irá ver ou provar. Com isso e com uma opinião baseada em crença e achismo, gera um determinado preconceito. Esse preconceito por epigênese começa uma tradição, ligada a tudo aquilo que deve ser o correto e perpetuado através do tempo. Você não para e começa a pensar de forma acrítica. Se aquilo é pregado, aquilo é uma verdade. E se é uma verdade é generalizadora, sem necessariamente basear-se nos fatos.
Pois digo que não. Primeiro por que não sou geral, sou apenas uma série de características construídas pelo meu DNA, meu modo de vida e minha maneira de pensar. Se alguém lhe dissesse que comer merda lhe deixaria imortal, você comeria? E por que algumas pessoas precisam engolir toda a merda baseada em achismo e crença para poder existir? Alguém pode perguntar: você defende alguma causa? Eu posso responder: sim, a causa humana. A natureza não é tão perfeita, e a sociedade destroça alguns pelos seus valores. Mas palavras não devem valer mais do que significados. E grupos não devem ser menos e nem mais dentro de uma sociedade. Utopia? Anarquia? Não. A minha crença. A minha verdade.
Não preciso ver o que você possui de diferente. Preciso ver o que você possui em igualdade de existência. Se acredita ou não naquilo que acredito, se gosta ou não daquilo que eu gosto, se faz ou não aquilo que eu faço, se vive ou não da forma que eu vivo. O que me importa?
Não preciso de um armário para sair. Precisaria de um closet completo pela minha grandeza. Não preciso de uma palavra para me definir. Precisaria de um dicionário completo. E como aquele ditado "essa Coca é Fanta": eu sou colorido, mas não sou uma palavra generalizadora. Não sou uma crença, nem uma opinião, nem mesmo um preconceito. E ainda careço de fontes científicas para ser comprovado. Mas enquanto estiver amando, nunca irei me sentir um derrotado.
Sim. Eu sou o B da sigla! Mas isso não me caracteriza. Sou um pouco mais denso e complexo. Acho que estou pronto agora. Por uma literatura sem gêneros. Por uma sociedade baseada no amor e nos fatos. Não está na hora de construir uma nova tradição de valores?

Dia 04 de Junho de 2017, Vicenzo Vitchella.